Com o novo diploma que rege a colocação de professores, a ministra da educação propagandeou aos quatro ventos que esta legislação iria trazer estabilidade para todos: alunos, pais e encarregados de educação, professores e escolas.
Mas o que aconteceu foi que, com o adiamento da idade da reforma, alguns professores, que estavam na Educação Especial ou que desempenhavam outras funções na administração, regressaram às escolas a cujos quadros pertenciam.
Por tal facto, professores do quadro de vinculação, que estavam há alguns anos numa escola, viram essas vagas fechadas e obrigados a concorrer para outras escolas.
Alguns dos professores que regressaram às escolas estavam já em final de carreira e, ao fim de alguns meses aposentaram-se tendo que deixar a sua turma à espera de um novo professor. (Na minha escola, nessas condições, são três os professores).
Também regressaram à escola professores da Educação Especial que depois foram convidados pela tutela para voltarem a tomar conta de alunos dessa área noutra escola e, por isso, abandonaram a turma.
Por via disto, os professores colocados no Apoio Sócio Educativo foram abandonando este para tomarem conta das turmas que os professores aposentados tiveram de deixar. Na minha escola já conhecemos três professores de Apoio Sócio Educativo, no que vai deste ano lectivo.
A isto, chama a ministra estabilidade.
Mas não satisfeita com isto, tem a brilhante ideia de terminar as colocações cíclicas, abandonando um instrumento de ordenação de professores que era, apesar de tudo, mais transparente e mais justo do que agora se verifica com as ofertas de escola.
Já tem sido referido, pela comunicação social e pela blogosfera , que a contratação de professores nos termos vigentes lançou a confusão nas escolas e nos professores, aumentando os gastos de uns e de outros com envio e análise de currículos.
Há casos em que para um horário incompleto se candidataram mais de 600 professores. Qual é a viabilidade de um agrupamento de escolas escolher com justiça e transparência e em tempo útil para obviar às necessidades de substituição de docentes, às vezes, por um curto período de tempo?
Está lançada a confusão, o caos, o salve-se quem puder. É a isto que a ministra chama ESTABILIDADE.
Este ministério é mesmo o Ministério da Incompetência. Tem uma tendência para o disparate confrangedora. E não aprende. A seguir a um erro comete ainda mais. Não faz auto-avaliação, não admite os erros. Não reconhece a sua inépcia para governar o país em matéria de educação.
Não bastam os sucessivos insucessos (diria desaires) para fazer abrandar a sua irresponsabilidade. E que dizer da sua cegueira política. Qualquer pessoa bem intencionada e séria já teria pedido a demissão depois de ver as suas medidas tão contestadas por alunos, professores, pais e até tribunais.
Mas não. Convencida de que possui a Verdade Absoluta, esta equipa ministerial prossegue a sua sanha contra tudo e contra todos. e com isso é a Escola Pública que vai sendo minada por dentro até à descredibilização total.
Desta vez, o coelho tirado da cartola foi uma espécie de monodocência para o 2º ciclo. Curiosamente, tenho vindo a assistir a uma tentativa de alguns agrupamentos em gerir o 1º ciclo à imagem do 2º. sem ter em conta a especificidade daquele ciclo de ensino. O Secretário de Estado Valter Lemos anuncia agora a ideia peregrina de estender ao 2º ciclo a experiência da monodocência do 1º. Mas quem disse a este senhor que a monodocência o melhor para um e outro ciclos? Fez-se alguma avaliação séria e fundamentada?
Para muitos docentes a monodocência não serve os interesses de sucesso dos alunos porque se assenta na ideia do professor generalista que, como diz "A Educação do Meu Umbigo", "é a pior praga que existe", "que tendo que saber tudo acaba por não saber nada ". Para o Abnóxio a monodocência é um "crime educativo".(citado em " A Educação do Meu Umbigo)
Não concordo com a monodocência no 1º ciclo (nem no 2º) porque, para além de outras razões, ao mantermos a organização do ensino com base em professores de perfil generalista estamos a manter "arquipélagos de solidão", como diz José Pacheco. ( também citado aqui. ) Porque estamos a reduzir o currículo do 1º ciclo ao retrógrado "ler, escrever e contar", deixando as áreas das expressões para um plano secundário, como se depreende do recente despacho do secretário de estado sobre a carga horária para o 1º ciclo.
Embora concordando com a opinião da "Educação do Meu Umbigo" na generalidade dos seus textos, não posso deixar de manifestar a minha discordância quando considera que "a proposta de tornar o sistema actualmente em vigor no 1º CEB extensível ao 2º CEB " "significaria um alargamento da infantilização do ensino e do alongamento da descaracterização do currículo dos alunos para 6 anos".
Ontem, foi dia de reunião de conselho de docentes do 1º ciclo do meu agrupamento. No meio da preocupação doentia a propósito das evidências, transformadas em documentos uniformizados, fiquei a saber que, afinal, os coordenadores das escolas que integram o agrupamento (ou, como alguém dizia aqui na blogosfera, "ajuntamento" ) eleitos pelos docentes de cada estabelecimento de ensino, no início do ano lectivo, representam o Conselho Directivo.
Ou bem me engano ou então a democracia está ao avesso.
Por esta ordem de ideias, o Conselho Directivo, também eleito pelos professores de todas as escolas "juntas", deve representar o Ministério da Educação. Esta situação levanta uma série de questões que, curiosamente, vi reflectidas aqui num dos blogues mais esclarecidos na área da educação ( A Educação do meu Umbigo).
Será que se a ministra da educação tivesse a mesma peregrina ideia do director de impostos de mandar rezar uma missa de acção de graças pelo exercício do seu ministério no ano que finou teria a assistir:
algum professor ou professora?
algum funcionário ou funcionária do ministério?
algum aluno ou aluna?
algum pai ou mãe ou encarregado(a) de educação?
algum elemento da população?
ou será que só teria a presença dos
seus secretários?
seus parceiros de governo?
Confesso que estou curioso e até gostaria de ter poderes para adivinhar. Porque, para mim, a ministra até tem motivos para realizar essa missa mas para agradecer a "boa vida" que está a ter à frente desta "espécie de ministério de educação".
Passando ao lado de todas as chamadas de atenção para as possíveis falhas de constitucionalidade que eram apontadas pelos professores, seus sindicatos, especialistas em educação e constitucionalistas, o presidente da República promulgou, ontem, dia 10 de Janeiro, o ECD do ministério da Educação.
Cavaco Silva juntou-se desta forma aos responsáveis pela autoria de um diploma que põe em perigo seriamente a escola pública e, por via disso, ao contrário do que a tutela faz crer, potenciar o insucesso escolar.
Mais tarde, infelizmente para as vítimas, se verão as consequências da política de direita deste ministério e do seu governo e da atitude autista e irresponsável de uma equipa ministerial que, de educação, já deu provas de não entender rigorosamente nada. A comprová-lo, ficam os sucessivos reveses que tem sofrido, seja por parte dos alunos, com as suas vitórias relativamente à repetição dos exames, seja por parte dos professores, no que diz respeito às aulas de substituição ou da remuneração dos estágios.
A arrogância da ministra, e dos seus acólitos, permite-lhe afirmar n ão ter medo de manifestações ou de greves. Os professores não fazem greves nem manifestações para meter medo à ministra (para isso bastaria que ela tivesse coragem para se confrontar consigo própria cada dia). Os professores lutam para fazer valer os seus direitos e na defesa do que entendem ser o melhor para uma educação de qualidade.