à espera 24
Rua da Pena - Porto
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Recorro de novo ao jornal Público para, desta vez, trazer aqui as palavras esclarecidas de Luísa Araújo (Professora de Ciências de Educação) publicadas, na edição de ontem, no artigo com o título "Um professor deve ensinar todas as disciplinas até ao 6.º ano?" e subtítulo "Vários países com melhor desempenho escolar que nós privilegiam a especialização por anos de ensino e por disciplinas"
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"O ritmo com que o Ministério da educação anuncia medidas atrás de medidas tem um efeito curioso: ninguém discute as implicações que cada uma delas e todas elas, no seu conjunto, podem ter no nosso sistema educativo. uma das últimas medidas anunciadas consistiu em aproveitar o tratado de Bolonha para organizar a formação de professores de modo a que a habilitação ou profissionalização abranja o 1.º e 2.º ciclos do ensino básico. quer isto dizer que um mesmo professor vai passar a poder ensinar todas as disciplinas nucleares - Língua Portuguesa, Matemática, estudo do Meio/História e Ciências - desde o 1.º até ao 6.º ano de escolaridade."
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"Por exemplo, em França , Inglaterra e república Checa, os alunos começam a ter professores diferentes para diferentes disciplinas no 6.º ano. Nos países em que a formação generalista domina até ao 6.º ano, há um outro tipo de especialização: o mesmo professor ensina todas as disciplinas apenas durante dois anos. ou seja, em vez de acompanhar a mesma turma durante quatro ou seis anos, o professor acompanha os alunos durante dois anos. Na prática, o que acontece é que o professor se especializa no ensino dos dois primeiros anos ou no terceiro e quarto."
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"No caso finlandês, o país com melhor desempenho em testes internacionais, o facto de os professores se especializarem nos dois primeiros anos de escolaridade pode ter um impacto muito positivo, pois a iniciação à leitura e à escrita é a área principal a privilegiar. como resumiu um dos cientistas participantes no último painel sobre o ensino da leitura nos e>stados Unidos, ensinar a ler é uma ciência complexa."
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"Com efeito, não só o professor tem a oportunidade de se especializar durante a sua formação, como se vai especializandoao longo da sua carreira, pois ensina os mesmos anos durante um período de tempo longo. E, como seria de esperar, vários estudos mostram que um dos factores que mais influenciam o sucesso escolar dos alunos é a experiência do professor. Em geral, um professor consegue melhores resultados à medida que se torna mais experiente.
os dados são inequívocos. Primeiro, não se pode concluir que uma formação generalista contribua para acabar ou sequer mitigar o insucesso escolar. Segundo, vários países com melhor desempenho escolar que Portugal, entre eles a Finlândia, privilegiam a especialização tanto por anos como por disciplinas. Em Portugal, um modelo de formação de professores generalista que mantém o acompanhamento dos alunos por quatro ou seis anos sem delinear uma área de estudos especializada constitui um potencial agravamento do desastre que já é o nosso sistema de ensino."
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Concordo plenamente
O que eu acho é que esta ministra e seus secretários estão mais empenhadas em mudar, mudar tudo, mudar só para mudar, muadra pela mudança, sem ter em conta as consequências da sua acção aventureirista e irresponsável. O problema é que os resultados desta campanha de destruição, que já começam a sentir-se, vão ser mais evidente e, então, irreversíveis quando estes senhores já não ocuparem as cadeiras do poder (já não falta muito). Nessa altura, a culpa (que é uma cabra que anda no monte e ninguém a quer) irá morrer solteira, uma vez mais.
Na passada segunda-feira, dia 26, Santana Castilho escreveu no Público sobre " A vocação fúnebre das políticas educativas". Por achar importante o que ele disse, aqui transcrevo algumas das suas ideias, com a devida vénia.
«2. As bancadas parlamentares assemelham-se, repetidas vezes, a autênticos necrotérios de vontades. Soube-se, na transacta semana, que cerca de 30 por cento dos deputados do PS que integram a comissão parlamentar de educação estão contra normas várias do estatuto da carreira docente, recentemente promulgado. essas normas, no dizer do grupo rebelde (em rigor, tristemente obediente), violam princípios básicos da Constituição da República Portuguesa e são "arbitrárias e discriminatórias". Apesar destes qualificativos, os deputados preteriram o interesse dos representados e a sua própria convicção, em nome da disciplina do voto. repugna-me esta visão domada da democracia e esta leitura do que é ser deputado. o crédito moribundo de que gozam os ditos sofreu mais uma pazada.»
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«4. Os veredictos dos tribunais portugueses têm exposto a má qualidade das decisões políticas dos governantes da 5 de Outubro: conto, salvo o erro, 10 condenações relativas a exames de Física e Química, 3 no que respeita a falta de pagamento de aulas de substituição e despachos revogados , por ilícitos. A relativa passividade dos media dá que pensar. a displicência e o silêncio sepulcral dos visados não surpreendem.»
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«6. Mais um anúncio e mais uma iniciativa inédita: vão ser gastos 940 milhões de euros na recuperação de escolas ao longo dos próximos nove anos; segundo o porta-voz do Ministério da Educação, um dos instrumentos de financiamento será, e passo a citar, "o aluguer de espaços para casamentos e baptizados" e "para torneios de solteiros e casados". Esqueceram-se de considerar o aluguer para velar mortos e discriminaram os divorciados nos torneios de salão. depois da anulação do défice, é provável que ainda sobre algum Portugal, algumas escolas, algumas maternidades, algumas urgências hospitalares, alguns apeadeiros de caminhos-de-ferro, algumas estações de correio, algumas aldeias do interior, obviamente, 54 governantes com os seus 500 assessores e adjuntos, 137 secretárias, 128 motoristas e 280 auxiliares administrativos.»
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Subscrevo, se me é permitido, as palavras de Santana Castilho e acrescentaria no mesmo tom: talvez sobrem ainda alguns gestores, como Rui Cartaxo, a quem são pagas indemnizações tão avultadas como indecorosas, enquanto a progressão dos docentes na sua carreira continua congelada "A bem da Nação" .
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Nas minhas deambulações pela cidade, encontrei mais este outdoor camarário propagandista do plano nacional de leitura.
Repare-se na frase e na obra. Elucidativa afrase, apaixonante a obra, sobretudo se pensarmos nas crianças para quem está, dizem, pensado este programa.
Particularmente interessante é a localização deste placard: a via panorâmica, mesmo em frente à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Ingénuo, provocatório?
P.S. À minha escola ainda não chegou qualquer livro do Plano. Sintomático.
Esta ideia só poderia sair de uma mente iluminada. Tão iluminada que só poderia pertencer a um governo iluminado. O mesmo governo que tem na sua formação um director geral do ministério da educação que, seguindo os passos iluminados dos seus dirigentes inventou e, o que é mais grave, anda a espalhar pelo país, através dos conselhos executivos das escolas e agrupamentos, um iluminado "roadshow" para explicar como se tramam os professores que pensavam que tinham direito a exercer as suas funções na escola onde foram por concurso em 2006, por 3 anos, dizia-se em nome da estabilidade, lembram-se? Pois bem, o que vai por aí é tudo menos estabilidade. É tudo menos transparência. É tudo menos justiça. É tudo menos educação.
E agora, não refeitos da última jericada, aí estamos confrontados com outra. Este executivo, de resto, é fértil em surpresinhas deprimentes. Com que então "Allgarve"? Não lembraria ao Diabo. A foto deste post está numa paragem de autocarro frente a uma escola do 1º ciclo. Já estou mesmo a ver como se conjuga o "Plano Nacional de Leitura" com esta neografia.
Qualquer dia, não me admira que aparecem outros cartazes a vender aos turistas outras paragens como, por exemplo: Sun tarém, Gondo sea, Extreme dura.
Não há pachorra.
"Bai lenço felis buando
nas asas dum passarinho
cando bires o meu amor
dále um abraço
e um beijinho"
Depois dos "outdoors" com algumas frases anódinas retiradas de algumas obras literárias de renome, sob a palavra de ordem "Gostou da frase? Apaixone-se pelos livro" que apresentei em postagens anteriores, chegaram na passada sexta-feira à minha escola (presumo que às restantes 54 do concelho do Porto também) uma colecção de marcadores de livros, distribuídos pela Câmara Municipal do Porto, no âmbito do Programa "O Porto a ler" em parceria com o Ministério da Educação, através do seu Plano Nacional de Leitura.
Em montinhos de 75, aproximadamente, os marcadores, com o slogan "Conhece a frase? Descubra o Livro" , apresentam seis frases transcritas de outras tantas obras a saber: (de cima para baixo e da esquerda para a direita) "O Crime do Padre Amaro", de Eça de Queirós, "Auto da Barca do Inferno", de Gil Vicente, "Mensagem", de Fernando Pessoa, "Rimas", de Luís de Camões, "O Guardador de Rebanhos", de Alberto Caeiro e "Folhas Caídas", de Almeida Garrett.
Bom, marcadores já temos. Ficámos à espera... dos livros. Mas, já agora, que tenham a atenção o nível etário das crianças que frequentam o primeiro ciclo, se não for pedir muito.
No momento em que, como era de esperar, começam a surgir hospitais privados nas localidades em que o governo "socialista" de Sócrates fechou centros de saúde e urgências, não é demais estar alerta em defesa das Urgências do Hospital de Chaves.
Se os privados arriscam abrir serviços médicos em determinados locais não será por benemerência, que esse não é um atributo do capital, mas porque esperam lucros dessa actividade. E não haverá lucro se não houver clientes, pelo que fica provado, se tal fosse necessário que os serviços encerrados são necessários para a população.
O governo, no seu afã de fechar tudo que dá "despesa", numa lógica capitalista de custo/benefício, corre o risco de "fechar" o país, de o entregar aos banqueiros deste e doutros países, de privatizar o país. Com esta atitude oferece à direita, e ao capitalismo desenfreado, em apenas 2 anos, o que aqueles não conseguiram em décadas. Pode sentir-se orgulhoso da política de "mudança", para pior, que está a impor ao povo português.
Espero que em 2009 o povo não tenha a memória curta.